sexta-feira, 21 de março de 2008

Dia mundial da poesia

Ora cá está mais um dia mundial decidido sabe-se lá por quem... Mas este não vende cartões nem encherá os cofres capitalistas injustificadamente. Quanto mais não seja esgotam-se as prateleiras das FNAC's e sempre se aprende algo.
Faço um post acerca deste dia e quem escolho? O polivalente e unánime Pessoa? O "vizinho" Eugénio de Andrade? O quase perigoso Antero de Quental? O rebelde Al Berto?

Não... respeito o meu habitual egocentrismo e escolho um amigo.


Daniel Jonas - "voz"

é uma voz de veludo a que te diz que podias ficar
se um pássaro lhe mora na boca
ou se um barbitúrico ali escolheu viver não sei
mas a voz que morre na tua voz
não tem fome de mais nenhuma
e apenas a tua boca quer comer
apenas a tua boca

é uma voz que escorre como um cântaro
que só canta uma vez na vida e depois morre
e ao morrer deixa um passeio molhado
e uma casa por regressar e ao morrer
deixa um passeio e uma cidade perdida
uma voz que ao morrer
sai toda cá para fora

é uma voz a que te pede magra e sem forças
que se despe toda de palavras depois da chuva
que se despede da chuva depois das palavras
uma voz que vai morrer longe
como um gato aos subúrbios da noite
depois de se ter dado toda
àquilo que te disse

3 comentários:

Caetana disse...

A primeira vez que ouvi o nome Daniel Jonas foi há uns dois ou três anos, na Biblioteca Florbela Espanca. Uma amiga perguntou-me se o conhecia e, logo a seguir, acrescentou: Ele tem poesia publicada e está a traduzir o Paradise Lost, do Milton! Na altura, a minha resposta foi: o Paradise Lost??? Isso é que é espírito de sacrifício!!!

Depois, fui-me cruzando com ele pelos corredores da faculdade, mas nunca "o" li...agora fiquei com vontade de conhecer mais.

Caetana disse...

ok, mas Al Berto também não teria sido uma má escolha... ;)

NM disse...

Sim! O Paradise Lost foi qualquer coisa de hercúleo... Ele levava aquilo para todo o lado. Não tenho bem a certeza mas ainda lhe demorou um par de anos a terminar.

Mas recomendo a leitura das obras próprias dele. Essas sim são algo de fantástico!