quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

O meu caderno


Há umas semanas, no decurso de umas arrumações, redescobri o meu caderno do 12º ano. E antes de mais revelo que o dito caderno não é o vistoso Moleskine da imagem... Era um daqueles A4 pretos vulgarissimos.

Por aquela altura do fim da adolescência / inicio da fase da parvalheira "olhem para mim que até tenho um lado intelectual e adulto" copiei alguns poemas na capa, na contracapa e na primeira página.
Curiosamente, após estes anos todos, ainda são alguns dos meus poemas preferidos...

Logo aí pensei que esse seria um belo tema para post Valentino!


Na CAPA: Eugénio de Andrade.

Tu és a esperança, a madrugada.
Nasceste nas tardes de Setembro,
quando a luz é perfeita e mais dourada,
e há uma fonte crescendo no silêncio
da boca mais sombria e mais fechada.

Para ti criei palavras sem sentido,
inventei brumas, lagos densos,
e deixei no ar braços suspensos
ao encontro da luz que anda contigo.

Tu és a esperança onde deponho
meus versos que não podem ser mais nada.
Esperança minha, onde meus olhos bebem,
fundo, como quem bebe a madrugada.


Na CONTRA CAPA: Florbela Espanca.

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca... o eco dos teus passos...
O teu riso de fonte... os teus abraços...
Os teus beijos... a tua mão na minha...

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca...
Quando os olhos se me cerram de desejo...
E os meus braços se estendem para ti...


Na PRIMEIRA PÁGINA: Luís de Camões

Ah! Minha Dinamene! Assim deixaste
Quem não deixara nunca de querer-te!
Ah! Ninfa minha, já não posso ver-te,
Tão asinha esta vida desprezaste!

Como já pera sempre te apartaste
De tão longe estava de perder-te?
Puderam estas ondas defender-te
Que não visses quem tanto magoaste?

Nem falar-te somente a dura Morte
Me deixou, que tão cedo o negro manto
em teus olhos, deitado consentiste!

Oh! Mar! oh Céu! oh minha escura sorte!
Que pena sentirei que valha tanto,
Que inda tenha por pouco viver tanto?

Este último é especial... Li no 9º ano e nunca mais o esqueci.

E já que estamos nisto... Quais os VOSSOS poemas favoritos?

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